sexta-feira, 17 de maio de 2019

Luta e Orgulho LGBTQ+ em Brasília | Parte I


Hoje, é o Dia Internacional de Combate a Homofobia. E por falar em diversidade, queremos exaltar que quanto mais diversos nós somos, maior é a nossa riqueza. Brasília é assim: rica de gente massa! Infelizmente, ainda há pessoas que tentam fazer com que sintamos vergonha de assumir nossa identidade, mas é a partir daí que nasce a nossa resposta: o orgulho!

Então, resolvemos trazer duas pessoas para contar esse misto de luta e orgulho LGBTQ+ vivenciados diariamente no nosso quadradinho. Vamos nessa?


Gabriela Xavier, 22 anos, estudante de Psicologia

Ser LGBT em Brasília pra mim é se sentir como uma barreira de corais... Calma que eu vou explicar.
De um lado, tem ondas batendo direto, amigos espancados pelo único fato de serem gays, preconceito, olhares tortos, grosserias e, inclusive, xingamentos nas ruas após uma exaltação do governo de vocês sabem quem. É muito difícil sair de mãos dadas ou dar um abraço em alguns ambientes sem um friozinho na barriga.




Por outro lado, existe calmaria, acolhimento, olhares afetuosos, pessoas incríveis que cruzam nosso caminho com um sorriso ou nos param na rua pra dizer o quanto somos lindas. Cada vez mais, sinto uma rede de apoio em crescimento... Esse lado traz esperança, nos une e dá força pra continuar atrás do nosso espaço.

Cláudio Henrique Zinato, 22 anos, estudante de Direito

Sofri discriminação desde a infância. Sempre fui uma “criança viada”, aquele menino que se portava diferente, que não gostava das “coisas de menino” e ainda por cima era gordinho. A infância é o momento mais frágil das nossas vidas, por que é nele que construímos nossa identidade. A minha foi ridicularizada repetidas vezes, até que eu deformasse meu comportamento e meu tom de voz no intuito de não estar mais vulnerável a homofobia e friso aqui que não foi simplesmente bullying. As crianças que praticaram isto foram assimilando valores LGBTfóbicos passados em casa, na televisão, nas redes sociais, nos videogames e vai indo. Eu me refiro a situações reais de zombaria e rejeição, que acontecem sistemicamente em várias escolas do país.

O simples fato de eu ter um comportamento desviante serviu de convite aos colegas do colégio em que estudei para me arrancarem do armário e forçarem o descobrimento da minha própria sexualidade na época em que minhas únicas preocupações eram o estudo e o recreio.

Continuei a passar por várias situações de exposição e perigo ao longo da adolescência pelo simples fato de ser excluído e perseguido, feri muitas pessoas pelo caminho até que ao final do segundo ano do ensino médio tive mais contato com diversas pessoas da comunidade LGBT+ que falavam sobre tudo o que eu passei e por que elas passaram também. Esse contato foi fundamental pra que eu me entendesse e sentisse o que é o Orgulho pela primeira vez e desde então eu nunca mais senti vergonha, ou medo, por que eu não estava mais sozinho e que se fosse pra lutar eu teria uma razão para isso, um objetivo de fazer de tudo ao meu alcance e ao alcance da união da nossa comunidade para que nenhuma outra criança LGBT+ passasse pelo que nós passamos. Eu me emancipei!


Ainda sofro, pois dói diariamente ser quem sou nessa sociedade, mas resisto e resistimos juntos e juntas a quem nos mata e a quem quer nos convencer de nos matar. Mas tenho esperança de dias melhores, a cada encontro, cada festinha alternativa que encontro minhas amigas e amigos para sermos livres, no Subdulcina, no Canteiro Central, no Beco da CAL, nos bailes de Vogue da UnB, em cada festinha que migra de lugar, Mimosa, Lust e muitas outras, e claro, antigamente, nos saudosos Happy Hours da UnB que nunca sairão da minha memória, em especial o batizado organizado pela gestão Caliandra, da qual participei. Estivemos sempre preocupados em estar em um ambiente seguro para as mina, as mana, as mona e os mano, para que pudéssemos efetivamente nos divertir sem a preocupação de sofrermos agressões por sermos quem somos.

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