Vai ter muito Luta e Orgulho, sim. Hoje, nós vamos dar continuidade a
nossa série sobre as delícias e dores de ser LGBTQ+ em Brasília. Assim como em
qualquer outra cidade, o quadradinho carrega o peso de pessoas que tiveram que
crescer lutando desde muito cedo pelo direito de serem felizes e se orgulharem
de si mesmos.
Agora é hora de conhecer a história da Isabella e do Marcos.
Isabella Silveira, 19
anos, estudante de Publicidade e Propaganda
Crescer LGBT em Brasília é crescer sem ter referências
próximas de que aquilo é normal ou até possível. O desenvolvimento da minha
sexualidade sempre foi duro e depois de 5 anos assumidamente LGBT não me sinto
totalmente confortável. Desde criança, na escola e na família, era algo
condenado. A única mulher lésbica que eu conhecia era minha tia avó,
extremamente castigada pela família. Ela tinha um problema no pé e me falavam
que era uma vingança de Deus por conta do seu estilo de vida. Nunca foi normal
ou aceitável não ser heterossexual nas escolas em que eu estudei. A primeira
vez que tive um namoro sério com uma menina, no terceiro ano do ensino médio, a
diretora tinha acabado de tirar outra estudante do armário para a sua família.
Como me sentiria segura assim? Aos 14 anos, fui colocada em um psicólogo, para
"consertar" esse desvio do padrão que eu tinha. Resumindo, nunca fui
expulsa de casa ou sofri agressão física, como é a realidade de muitas pessoas,
porém, podemos concordar que não foi uma adolescência normal. Alguns
pensamentos e situações que passei, uma pessoa hétero não teria que passado.
Depois que me tornei maior de idade, pude sair da minha
bolha social e conhecer outras pessoas LGBT’s, principalmente no meio do
futebol feminino. Eu e minha namorada passamos a frequentar lugares que nos acolhiam
e nos permitia agir normalmente como se fôssemos um casal de homem e mulher em
qualquer lugar. Por exemplo, alguns bares da 410 Norte, festas no Setor
Comercial Sul, Universidade de Brasília, festas no Subdulcina, Victoria Haus,
casas de amigos, entre outros. O tratamento que recebo nesses lugares, de uma
pessoa “normal”, me faz sentir muito acolhida, e me faz acreditar que um dia a
maioria dos lugares possa ser assim.
Marcos Junior, 28
anos, formado em Direito
Crescer gay em Brasília, na minha experiência, ao contrário
de uma grande quantidade de LGBT's, não foi complicado. Pode ter sido pelo fato
de ter me entendido tardiamente. Eu cresci estudando em escola católica e que,
apesar disso, não se via alunos praticando bullying ou atos de preconceitos com
outros alunos (ou eu era muito desligado pra isso), então não sofri com a
repressão por parte dos colegas de escola.
Eu acho que também posso contar com a sorte de sempre a
maior parte dos meus amigos serem formados fora da escola e que nunca trataram
a homossexualidade como um tabu, sendo um grupo de amigos que quando eu
finalmente entendi a minha sexualidade já tinha outros amigos
"assumidos". Os demais que não se importavam com isso foram de uma
grande ajuda pra quando eu achei necessário contar para os meus pais, que também
não ligaram nem um pouco para o fato de eu ser gay ou não.
Além disso, sempre fomos de frequentar locais onde ser LGBT
é "normal", como por exemplo, os bares da 410 Norte, festas
realizadas pelos cursos da UnB e boates para o público LGBT, onde eu nunca tive
que me oprimir por ser gay e me comportar como uma pessoa que não sou, sendo
tratado sempre de forma respeitosa, como qualquer pessoa deve ser tratada e me
sentindo seguro para continuar frequentando.
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